segunda-feira, 9 de abril de 2012

Decidi escrever uma história. Esta é a primeira parte de não sei quantas.
Se acharem que está uma merda escuso de continuar a escrever, pelo que agradecia comentários com a vossa opinião.


História

Chovia a potes lá fora. A chuva batia com toda a força nos estores a esta hora já fechados da minha janela. Sempre gostei da chuva, normalmente é quando me sinto mais eu próprio, pois ela e o meu carácter sombrio e taciturno são quase idênticos. Durante esta tempestade de inícios de Abril, estava eu no meu quarto no pc. As únicas luzes visíveis eram as do ecrã do computador e duas velas. Estava no facebook a contar a minha vida a pessoas que nunca conheci pessoalmente. Curiosamente, seria capaz de confiar a vida a estas pessoas – coisa que não faria com ninguém da minha turma. Quando a música que tinha posto no youtube chegou ao fim, o som de um arranhar dentro do meu armário chegou-me aos ouvidos.
Levantei-me e abri de rompante a porta de correr do armário castanho espelhado. Uma tshirt saltou na minha direção e fiquei cego por momentos. Agarrei a bola de pêlo branca que ia no ar:
  - Então era aqui que estavas Kira!
O Kira soltou um ronronar aborrecido e saltou para o chão, indo aconchegar-se dentro da minha cama. Fuck, odeio que ele encha a minha roupa de pêlo. O Kira é o meu gato persa. Demasiado gordo para ser considerado ágil, as patas são extremamente pequenas e combinam com a barriga gorda a arrastar pelo chão e pela cara e focinho achatados, o que contribuía para o seu permanente ar carrancudo. Apresento-vos o meu melhor amigo. Como já devem ter reparado, dei-lhe o nome de uma personagem do Death Note.

Dia 9 de Abril, o último dia de férias da Páscoa. Enfim, o clássico dia que todos os estudantes abominam. Eu pelo menos sim. Sei que em poucas horas estarei na escola, rodeado de gente que não me diz nada, a aprender merdas que não me dizem nada.
É neste dia – 9 de Abril – que me encontro. Não sei qual é o problema das pessoas. Custa-lhes muito serem boa onda? Eu sou boa onda quando são boa onda para mim. Agora, não esperem que o seja para uma pessoa que me responde sempre com 7 pedras na mão ou que passa a vida a mandar bocas.
A música “Pressure” dos Paramore começou a tocar no meu telemóvel. O meu toque de alarme. O mostrador indicava as 19h00. À 3 meses que as 19h00 eram a hora de tomar os comprimidos para depressão receitados pelo psiquiatra. Nem me importo de os tomar, mas o problema é que nem todos os dias me apetece ficar com moca. Assim que os tomo fico logo com os instintos mais aguçados. Porque é que o raio do psiquiatra não me receitou um charro de mary jane ou de bolota diário? O resultado seria o mesmo.
Abomino o meu comportamento diferente. Mentira. Não abomino. Abominei. Agora percebi que ele faz parte de mim. Consequentemente, a única forma de poder estar bem comigo é aceitá-lo e recebê-lo com toda a simpatia.
Meti 2 na boca e empurrei-os com um gole de água. O objectivo destes comprimidos é quebrar o meu hábito de auto-mutilação e abater de vez os meus pensamentos e as minhas tendências suicidas.
Curiosamente, após questionar uma longa lista de conhecidos, familiares, e alguns amigos, percebi que a maioria considerava o suicídio algo cobarde. Acho que ninguém tem o direito de dizer isso. Inventaram que o suicídio era algo cobarde só para ter um argumento contra o mesmo. Vou explicar-vos porque é que acho o suicídio tão tentador. Se algum dia me suicida-se não estaria de todo a acabar com a minha vida ou a por um fim à minha existência. O suicídio para mim é apenas um atalho. Nada mais. Afterlife.
Quando morrer não me vou ficar pelas cinzas, o meu espírito – ou alma – vai largar este corpo e encaminhar-se para uma nova dimensão, um novo mundo. Não sei qual será esse mundo. Pode ser Marte, outra galáxia, outra dimensão, ou um bosque. Qualquer das opções me parece mais apelativa do que continuar a viver. Obviamente que esta definição de suicídio – como um atalho – só pode ser bem vista aos olhos de quem acredite que não nos ficamos pela morte física. Muita gente me acha completamente doido e mentalmente desequilibrado por pensar assim, e foi assim que começou a minha semanal ida ao psiquiatra.
Sinceramente o que me motiva mais a não cometer suicídio é o Kira. Não deixaria de o fazer por nenhum amigo ou familiar.
Depois de ter ido à sala dizer à minha mãe que já tinha tomado os comprimidos fui para o meu quarto. Dirigi-me à estante azul escura cheia de livros. Tirei 3 calhamaços e puxei uma pequena caixa escondida lá atrás. De dentro da caixa tirei uma mortalha, uma orelha do maço, um cigarro e um bocado de weed.
Disse à minha mãe que ia andar de bicicleta e fui para a garagem do meu prédio. A primeira coisa que fiz foi enrolar a orelha do maço para formar um filtro. Misturei o tabaco do cigarro com a weed enrolei na mortalha. Ganza feita. Quemei a ponta e acendeu-se uma chama. Assim que a chama se apagou na ponta soltou uma data de fumo e inspirei-o todo. Eheh é esta parte da ganza que contém mais THC. Depois fumei normalmente o resto.
Devem estar a perguntar-se porque é que fumo ganzas se os comprimidos dão o mesmo efeito. Especialmente porque é que fumo ganzas logo depois de ter tomado 2. Bem, é simples. Tenho 16 anos, sou otário e parvo, e gosto da sensação da moca. Nada me impede. Logicamente fiquei com o dobro da moca que estava, pelo que saquei de um caderno do bolso e comecei a aproveitar a inspiração escrevendo letras. Depois entrei no elevador e fui para o meu quarto jogar ps3. Acreditem ou não, depois de fumarem, o vosso desempenho nas consolas é tipo o dobro do normal.
  - Diogo, vem jantar! – gritou a minha mãe da cozinha.
Levantei-me e fui a correr, estava a morrer de fome. Assim que cheguei à cozinha ouvi uma voz no fundo do corredor:
  - Deixas-te a luz do teu quarto acesa caralho! Achas que sou rico? És tu que pagas a conta da electricidade?  Um par de estalos e vais ver.

  - Tem calma Diogo, já sabes como é o teu padrasto – dizia a minha mãe enquanto me afagava as mãos que entretanto tinham começado a tremer de fúria -, ele não diz aquelas coisas para te ofender.
  - Oh mãe desculpa – murmurei eu.
Saí da cozinha e fui trancar-me no quarto. 

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