Tudo começou com o interesse especial que a minha mãe sempre
demonstrou por druidismo. A paixão era tanta que ela se inscreveu na
“The Order of Bards, Ovates and Druids”, que é uma espécie de clube –
mas muito melhor que isso – de druidismo e outras práticas espirituais. Eu acho
que é um passatempo saudável, quer dizer, montes de gente passa o tempo livre a
coleccionar borboletas mortas ou num clube de golfe a beber whisky.
Todos os anos a O.B.O.D. (Order of Bards, Ovates and
Druidis) fazia um acampamento no Verão, em Yorkshire, Inglaterra. A minha mãe juntou-se e decidiu ir ao acampamento (2008). Eu tinha 13 anos e íamos eu, a
minha mãe e o meu padrasto. Como não podia deixar de ser, eu estava super
entusiasmado por ir para Inglaterra.
(…)
Aterrámos no aeroporto de Heathrow, em
Londres. A coisa que mais lamento nesta viagem foi não
ter tido a oportunidade de ver o que quer que seja de Londres, pah eu queria
mesmo conhecer a cidade. A primeira coisa que fizemos foi ir buscar a
nossa bagagem e alugar um carro. O meu padrasto demorou algum tempo a
adaptar-se ao automóvel, em Inglaterra o lugar do condutor é à direita em vez
de à esquerda. Demorou também algum tempo a interiorizar o facto de as faixas
para os carros serem ao contrário. Depois fomos de carro até a um MacDonnald’s
e comprámos 3 doses de 20 nuggets cada. E ficamos num passeio com parquímetro a
comer. Na rua em que estava havia uma tabuleta a dizer “Watch out for thieves”, e isto foi tudo o que vi de Londres.
E lá fomos nós a caminho de Yorkshire.
Chegámos ao fim da
tarde, por volta das 18 horas e fomos recebidos com imensos sorrisos e
cumprimentos em
inglês. Estavam todos vestidos tipo à hippies, com
descontracção. Era só louros de olhos azuis com sotaques mesmo british. Nem levámos tenda, ficamos numa tenda comum com outras pessoas que
decidiram também não levar, houve momentos em que senti falta de privacidade
mas pronto. Depois de nos instalar-mos e
de nos mostrarem o campo fomos todos jantar. O refeitório era constituído por
um buffet – tipo caseiro – de comida vegetariana. É claro que o pessoal que
tinha vindo nas caravanas fritava bacon e febras nos fogões portáteis, mas no
geral, o pessoal era todo vegan.
Depois do jantar foi
o primeiro ritual. Naquele primeiro dia ainda não tinha chegado toda a gente e
éramos cerda de 39 pessoas. Fizemos uma fogueira enorme e colocámo-nos em
círculo à volta. Um miúdo louro (que mais tarde conheci e que se chamava James)
com 12 anos, vestido com um fato escocês – boina, corneta e tudo – foi até à
fogueira para a acender.
Depois deu-se a
invocação dos elementos das 4 direcções. Norte, Sul, Este e Oeste. E eu juro
que senti mesmo a energia dos elementos e daquelas pessoas todas a encher-me o
peito, foi das experiências mais marcantes da minha vida . Depois de
abrirmos o círculo uma mulher começou a tocar arpa, uma daquelas músicas
irlandesas mesmo lindas…
Pode parecer
estranho, mas depois de ter estado naquele paraíso, quando voltei para a escola
senti-me sujo.
Os campos eram
lindos. Eu sentia a energia das folhas, do vento, era mágico. E foi nesse Verão
que eu passei a acreditar que os elfos existem. Que a energia existe. Que a
natureza se consegue fazer sentir dentro de nós.
No primeiro dia
andei sozinho, não falava muito bem inglês e não sabia como meter conversa com
os outros miúdos. Uma rapariga de loira de olhos azuis chamada Amber veio ter
comigo e deu-me as boas vindas e levou-me para o canto da floresta onde estavam
os outros miúdos. Nunca me vou conseguir esquecer deles. Lembro-me da Amber, na
altura de 16 anos, do Kyle de 12, do Asraal de 17 (ruivo, alto, místico), de
uma data de outros que não me lembro do nome mas não por isso menos marcantes.
E lembro-me da Avalon de 16 anos, a rapariga mais bonita que alguma vez vi,
parecia um elfo, não me recordo de palavras para descrever uma beleza tão rara. E
lembro-me do James – o miúdo que acendeu a fogueira na primeira noite. O James
era muito misterioso, passava muito tempo sozinho na floresta, mas não era
antisocial. Na verdade era o miúdo mais popular do campo. Cozinhava, esculpia
coisas em madeira. Mas
pelo que me contaram dele, na escola onde andava tinha fama de ‘freak’, achavam os hábitos dele estranhos e isso. Mas no campo conseguia
ser ele próprio.
Esse pessoal
marcou-me mais numa semana do que muita gente dispensável, ridícula, popular e
superficial da minha escola.
Lembro-me de, quando
ainda estávamos em Portugal, dizer à minha mãe que ia ser uma seca, que aquilo
não era a minha cena e cenas dessas. Nunca estive tão errado. Eu e os outros
miúdos passávamos as tardes a dar passeios pelos campos de Yorkshire, a saltar
pelos riachos e a brincar com paus. Depois ficávamos deitados na relva a olhar
para o céu e a Amber metia música no telemóvel dela. Foi o melhor Verão da
minha vida, e não estou a exagerar.
Sinto falta da
música do vento, da sensação da relva, das fogueiras à noite e dos rituais, das
pessoas fantásticas e interessantes, sinto falta de um lugar como aquele onde
me consiga identificar e integrar. Acima de tudo sinto falta do espaço naquele
campo, aquele espaço meu, que eu sabia que me pertencia, o espaço que eles
guardam para mim no círculo e que eu devia preencher.
Escrever isto
deixou-me extremamente nostálgico. Quero voltar a um passado que não posso
alcançar, e não é como querer voltar atrás no tempo para não trair a mulher ou
para estudar mais para um certo teste. É voltar atrás no tempo para viver. Para
me sentir vivo.
One Love
É preciso voltar a dizer o quanto adorei este post? alias eu adoro o teu blog e tu sabes que sim :b Adorei a maneira como descreveste parecia que era eu que la estava e sabes que adoro essas cenas dos elementos e da natureza, para mim isso mais peace = paradise *-*
ResponderEliminarEpah eu sei que sou mean mas tenho mm dizer, ganda pancada pela Avalon pahahahah desculpa desculpa tive de dizer xD
Bjs*
ly <3